Com os 90 anos de O Cantor de Jazz, o primeiro filme falado

Arte vista e consumida por milhões de pessoas ao redor do mundo, o cinema surgiu há mais de um século, em 1895. Ele se estabeleceu como indústria desde seus primórdios, mesmo antes de surgir um elemento que, hoje, parece intrínseco a ele: o som. Os filmes mudos faziam sucesso, mas, em paralelo, havia a busca por tecnologias que finalmente possibilitassem a sincronização entre som e imagem. Os resultados satisfatórios dessas experimentações foram registrados somente na década de 1920. Em 1927, há 90 anos, história era feita com a estreia de O Cantor de Jazz, o primeiro longa-metragem que contou com diálogos, efeitos sonoros e números musicais sincronizados à imagem.



Até o advento do som sincronizado, as obras se utilizavam dos intertítulos, legendas com falas e contextualizações de trama. Era comum, também, que as exibições de filmes fossem acompanhadas ao vivo por orquestras, efeitos sonoros ou até atores dublando falas por trás da tela, causando, às vezes de modo rudimentar, a ilusão da sincronia do som. Em paralelo, as tentativas de criação de mecanismos tecnológicos que permitissem a sincronização seguiam, quase sempre, por interesse dos grandes estúdios norte-americanos, a fim de aumentar sua força de mercado. 
O primeiro aparelho de êxito nesse sentido foi um investimento da produtora Warner Brothers: o Vitaphone, criado em 1925 e desenvolvido pela Western Electric. A tecnologia foi inicialmente utilizada em alguns curtas e no longa Don Juan (1926), de Alan Crosland. A aventura contou com trilha e ruídos sincronizados, mas seguia sem falas. Foi no ano seguinte, num filme também dirigido por Crosland, que as falas surgiram: em 6 de outubro de 1927, era exibido no teatro da Warner Brothers em Nova York O Cantor de Jazz, estrelado por Al Jolson. Com o som finalmente sincronizado, a repercussão foi positiva e o Vitaphone passou a ser utilizado por outros estúdios. Com o tempo, as tecnologias de som foram sendo aprimoradas e, na década de 1930, os filmes falados já eram maioria da produção. 
O filme de 98 minutos segue a história de um judeu que, desafiando as tradições da família, sonha em construir carreira no jazz. Ainda que seja o primeiro filme com falas sincronizadas, a obra é um exemplar de transição, mantendo diversas características do cinema mudo, como os intertítulos. O primeiro número musical aparece somente aos 15 minutos de filme e o primeiro discurso do protagonista, quase aos 18. No entanto, as primeiras palavras faladas já davam conta de projetar a explosão sonora que viria a seguir: após cantar Dirty Hands, Dirty Face para uma animada plateia, Al se volta para ela – e para o público do cinema que assistia ao filme naquela exibição em 1927 – e diz, como num aviso sobre o futuro: “Esperem um minuto, esperem um minuto. Vocês não ouviram nada, ainda!”. 
PIONEIRISMO EM CENA



LIGHTS OF NEW YORK (1928), de Bryan Foy, primeiro filme completamente falado 


MELODIA DA BROADWAY (1929), de Harry Beaumont, um dos primeiros musicais da história. A propaganda dizia: “o primeiro filme falado, cantado e dançado” 


ENQUANTO SÃO PAULO DORME (1929), de Francisco Madrigano, considerado o primeiro longa brasileiro a ter cenas com som sincronizado 


ACABARAM-SE OS OTÁRIOS (1929), de Luís de Barros, deu um passo adiante e veio com som e imagem completamente sincronizados 
JOÃO GABRIEL TRÉZ
O Povo

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